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Comerciantes oferecem serviços e produtos ao lado dos presídios

Apesar dos visitantes não poderem entrar com bolsas ou mochilas, ou qualquer outro item pessoal, os presídios do Distrito Federal não contam com um guarda-volume para os visitantes. Essas mulheres devem procurar formas, por si só, de guardarem seus pertences para visitarem seus amores.

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Ao observar essa falta de infraestrutura, mulheres prestam serviço de guarda-volumes por valores que variam entre quatro e cinco reais. O comércio de alimentos só é permitido no Presídio Feminino. Na Papuda, desde a pandemia esse serviço foi vetado.

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A mais antiga das vendedoras do local é a baiana Aura Dias, de 60 anos. Ela nasceu em Riachão das Neves (BA), município localizado a aproximadamente 919 quilômetros de distância da capital, Salvador. A comerciante se mudou para o Distrito Federal para trabalhar no Presídio Nacional recém-inaugurado, que tinha apenas um ano de inauguração.

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“Um dia eu fiquei desempregada, e a moça que cuidava do meu pai me chamou. ‘Lá está inaugurando um presídio e meu filho foi transferido para lá. Você quer ir pra lá?’ Eu perguntei onde era essa cadeia. Ela disse que era em São Sebastião. Eu nem sabia que esse lugar existia. Aí eu vim com ela, fiquei a primeira semana, a segunda semana, na terceira ela foi pro Maranhão e eu fiquei. E estou aqui até hoje”.

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A vendedora estava no estacionamento, próxima à grade, com mochilas de pessoas que no momento estavam preparando-se para entrar no presídio. Ali, para se proteger do sol, tinha apenas uma sombrinha, que ela mesma colocou lá. Aura estava com óculos escuros e um colete azul com indicação da Associação dos Ambulantes do Sistema Prisional do DF (AASP), que as próprias vendedoras do local criaram.

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“Nós prestamos esse serviço e o governo não ajuda a gente. Não presta nenhum auxílio. Tudo é nosso, até a sombrinha que a gente usa. Eles não dão auxílio nenhum, nós prestamos isso ao visitante. Porém, estamos proibidos de fazer. Às vezes, o visitante chega aqui em casos extremos, passando mal. Chega aqui para visita às 9h e descobre que a visita é só 13h”.

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Aura Dias afirma que já viu visitantes passarem mal, pois lá não há locais para eles se alimentarem. Há apenas dois banheiros, sendo um masculino e outro feminino, e um bebedouro. Antes da pandemia, eram comercializados lanches para os visitantes, mas esse serviço foi vetado.

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“Hoje, a nossa briga com o sistema prisional é que, desde que existe o complexo, existe essa necessidade. Se a gente não tivesse aqui as visitas não ocorreriam, porque você não pode entrar dessa forma”, finaliza a baiana.

Complexo Penitenciário da Papuda

Penitenciária Feminina do Distrito Federal

Ali, há apenas uma comerciante, Keila Jesus, que presta esse serviço há 15 anos. Às vezes, tem a ajuda de seu sobrinho, Lucas, que reveza em atender alguém e estudar com o seu celular.

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Em nossas conversas, ela contou que começou a empreender para ajudar as pessoas que precisam desse serviço para fazer a visita, e também porque estava precisando complementar a sua renda. 

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Água, refrigerante, suco, itens para o kit (cobal), salgados e pão de queijo, são os itens que ela vende em seu comércio improvisado. Além de prestar o serviço de guarda-volumes e aluguel de roupas. 

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“Eu nunca tive nenhum problema com os policiais. Eles não são ruins, nunca tive problema com eles e nem com as pessoas que trabalham aqui. Mas é assim, porque daqui pra dentro a gente não sabe o que acontece né? Aí geralmente é isso aqui que a gente vê. As mães desesperadas por causa das roupas erradas, aí a gente tenta ajudar.”

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Keila Jesus afirma que vê mais mulheres indo visitar seus parentes. E que a maioria são as mães, que as companheiras ou companheiros vêm algumas vezes, mas logo não aparecem mais por ali. “É muito raro a mãe abandonar o filho”

Reportagem produzida para o Trabalho de Conclusão de Curso da faculdade de jornalismo do Centro Universitário de Brasília - Ceub

 

Textos e website: Maria Luíza Souza

Imagens: Maria Luíza Souza e Mariana Tollendal

Orientação: Luiz Claudio Ferreira 

Coordenador do curso de jornalismo do Ceub - Manoel Henrique Moreira

©2022 por Dias de visitas: a rotina de mulheres que visitam os amores nos presídios do DF. Orgulhosamente criado com Wix.com

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